quarta-feira, 5 de abril de 2017

Lakshmi

Medo é temor, ansiedade ou receio. Também pode ser perigo. E nós? Nós podemos superar o medo através da determinação. Mas não conseguimos nos livrar da dor. A dor é inevitável é necessária para tornar morte mais leve. Quanto mais sofrimento o corpo tem, mais a alma torna-se leve. E assim funciona a lei da natureza. Lei da vida. E na vida temos apenas dois caminhos: tornar. nossa existência importante ou tornar nossa existência ignorada ou melhor, desnecessária, dispensável pra esse corpo que estamos habitante agora. Par tornar nossa existência importante, ou melhor, válida! Devemos cumprir não os nossos desejos, mas o que for nosso:dever! E infelizmente o dever sempre provoca dor. É por isso que as pessoas sempre evitam seguir suas funções. Porque sentem medo de sentir dor. Então, vamos eliminar o medo para conseguir aceitar nossas dores? Faz parte a gente aceitar. Dói menos...

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Rita

Casei fazem dois anos com o amor da minha vida. Uma morena clara com olhos castanhos. Esbelta e intelectualizada. Ela cheira jasmim ao acordar e prepara café com tapiocas de queijo todas as manhãs. Acorda-me para ir ao trabalho com um beijo afetuoso na testa. Vestindo minha samba-canção barata e uma blusa cinza de algodão. Ela é simplesmente maravilhosa! Sinto-me pleno com a presença dela ao redor. Ela enche a casa de ternura e compreensão. O apartamento é pequeno e simples. Em todos os compartimentos têm o toque dela. Um quadro de Albert Einstein. Um vaso de cristal com rosas coloridas. Na mesa de jantar: uma toalha de renda branca que trouxemos da última viagem. O sofá cinza com uma manta azul turquesa e almofadas amarelas. Cada canto, um detalhe. E muitas fotos em preto e branco espalhadas pela casa do nosso grande dia. 20 de maio: o dia em que assinamos o contrato chamado casamento. Nosso singelo lar foi fruto de trabalho árduo e mútuo de quase dez anos de relacionamento. Excessivamente simples em metros quadrados, fica bem localizado na zona norte de Recife, apesar de ter uma vista esquisita para outro prédio. 
O arquétipo de princesa encantada premeditados pela sociedade na qual estou inserido, casou com ela antes mesmo de assinarmos qualquer documento comprobatório de nossa relação. Mulher, solteira, jovial, bem educada, cheia de energia, logo, apta. Racionalmente fui frio e calculista na escolha, se formos analisar do ponto de vista sociológico. Investi tempo, espaço e energia para criar nela minha felicidade e ter o mínimo de segurança em me responsabilizar por esse estado de contentamento daquilo que denomino vida. Por outro lado, há quem chame tudo isso de amor ou melhor, paixão. Emocionalmente, estava feliz, amando e apaixonado por Ana. Minha esposa. 
Cinco e meia da manhã no nordeste brasileiro está bem ensolarado. Ana beijou minha testa com seus lábios brandos. Chamou-me para despertar cantando Roberto. Quando ela canta Roberto é sinônimo de sentimento de contentamento. Fez algumas tapiocas de queijo e um café bem ralo. Sinalizei o quanto me sentia grato por ela preparar a refeição, embora meu humor matinal seja abominável. Ela parte primeiro que eu para o trabalho. Veste um uniforme azul. É professora de matemática do ensino médio. A escola que leciona paga bem. É de uma antiga congregação de padres. Ela deve bater o ponto às 7h em ponto. O colégio São Paulo fica há uns 6 quarteirões do apartamento. Mesmo próximo, o Celta prata que executa o trajeto. Ela não gosta de caminhar. Sua sequência de procedimentos é metódica. Ao sair de casa seu perfume doce fica pelo ar. Mas rapidamente some quando ascendo o primeiro Malboro. Não fumo na frente dela. Costumo fumar uns cinco cigarros matinais. Um seguido do outro. Antes de sair para o escritório. O Celta prata dela está partindo pelo portão da garagem. Emito mentalmente um bom dia para nós dois, soltando uma fumaça de amor pela boca. 
Volto a observar o que acontece todos os dias às 6h45 na Estrada do Arraial. Olho para o edifício da frente, andar por andar. Há um ano atrás, antes da crise econômica, todos os apartamentos eram habitados. Grandes e pequenas famílias residiam com suas diferentes rotinas de classe média. Agora, muitos apartamentos desocupados para vender e alugar. O sétimo andar era animado de observar há um ano atrás. Ficamos emparelhados. Frente a frente. Apesar de sermos 801. Tem a diferença do mezanino das edificações. No sétimo, moravam duas famílias que da minha janela era possível observar quase todos os cômodos da casa. No 703, um casal mais antigo, com um filho adulto e muitos gatos. Certa vez conferi onze gatos, até que o rapaz abriu a porta e dentro de uma caixa de papelão molhada trouxe mais um felino amarelado. Certa manhã, o filho não estava mais lá. Fiquei sabendo que conseguiu um emprego na Holanda. Em poucos meses, levou seus pais e seus gatos para Europa. O 703 ficou vazio. No 704, um casal meia idade e três crianças. Choros e gritarias ecoavam até meu ouvido. Não perdia nenhum detalhe do início do dia daquela jovem família. Eu ficava interessado naquela rotina maluca, pois pensava em ter filhos com Ana em breve. Sei lá, perpetuar os genes é sempre algo que em alguma hora da vida paramos para pensar. Eu por um ano e meio analisei empiricamente aquela família. Nunca vi aquela mulher ter paz. Sempre que a via uma de suas crias estava pendurada em seus seios como pequenos macacos. Aliás, uma macaca na natureza, geralmente, não tem tantos filhos pequenos. Ela tinha três. O homem, pai, marido, Lúcio era advogado do outro lado da rua da firma que trabalho. Já nos confrontamos em algumas audiências. Tive pena de suas olheiras no tribunal. Mas trabalho é trabalho. Ele sempre do lado oposto a mim e sempre perdendo as ações, assim como o controle de sua vida familiar. O apartamento alugado da família de Lúcio era uma bagunça. Bebê conforto, carrinho e uma pilha de brinquedos decoravam a sala. Sofá e tapete manchados de papa, coco e xixi de criança. Móveis quebrados. Televisão ligada 24 horas por dia, em um canal infantil cujo, provavelmente a personagem principal era uma família de porcos vestidos. E o mais assustador era o coral de vozes e olhares exprimindo falta de esperança. Confesso que fumar um cigarro observando aquela rotina me deixava cansado antecipadamente a qualquer plano de ser pai. Em meu terceiro cigarro, Lúcio acenava para mim com um sorriso amarelado. E eu fingia que não julgava ao retribuir o balançar das mãos e sorriso sem graça, inclinando o meu resto para observar a rua. 
 Na estrada de asfalto, passa o velho da macaxeira em direção ao mercado de Casa Amarela. Uma doméstica gorda, transpirando no rosto e mancando da perna direita desce do ônibus e entra no prédio da frente. Uma babá de cabelo vermelho, short branco, fone no ouvido e mascando chiclete, entra aqui no prédio para reparar o gêmeos do 201. Seu Jeremias, o porteiro, chega à pé para mais um dia de trabalho. Voltei o olhar para o sétimo andar. Agora estava vazio. Os dois apartamentos estavam livres para alugar. O preço do aluguel estava caindo dia após dia. E, mesmo assim, ninguém ocupava. A crise está cada vez mais intensa. 
O interfone toca. Seu Jeremias avisa que o Jornal chegou. Peço para que ele coloque no elevador. Ao sair pela porta para buscar o jornal, encontro minha idosa vizinha no corredor indo passear com seu vira-lata marrom. Nos cumprimentamos e demos ênfase a capa do Jornal, a qual intitulava mais uma crise de corrupção dos políticos brasileiros. Tomo o Jornal para o quarto. Fecho a cortina da suíte e ascendo meu último cigarro para expulsar naturalmente os excrementos enquanto leio o jornal. Entretido nas notícias políticas, próximo ao momento de tomar banho, jogo o jornal no chão e me encaminho para o chuveiro. Tomar uma ducha gelada pela manhã é sensacional. Ao olhar através do vidro do banheiro o jornal caído no chão, percebo que a página estampava uma mulata dos seios e nádegas avantajadas e cintura bem fina, com título ‘’Musa da copa nordeste de futebol’’. Lembrei de Ana com culpa. Mas aquela mulata parecia me olhar nos olhos e segurar meu pênis com seus seios. Como uma espanhola. Minha mente já não ligava mais para a culpa. A água caía em meu rosto em direção ao meu pé e eu podia sentir o cheiro daquela mulher negra em cima de mim. Esfregando seu peito no meu rosto. E sua vagina em minha boca. Peguei no pênis com força, fingindo que ele era um assento perfeito para aquela grande bunda. Senti prazer por olhar aquele corpo da musa do futebol. Gozei pensando ter enchido ela de prazer naquele banheiro pequeno para tanto tesão sentido. 
Terminei o banho. Para evitar lembrar do sentimento de culpa, joguei todo o jornal no lixo. Afinal, foi apenas uma punheta, mas eu sei o quanto Ana se incomodaria de tomar conhecimento dessa situação. Ainda que imaginária. Isso ainda precisa ser bastante discutido no nosso relacionamento. Juntei jornal e restos de cigarro na sacola do lixo, coloquei o terno e fui ao escritório. O dia de trabalho fluiu melhor. Coração contemplado de amor por Ana existir na minha vida. E mente e corpo relaxados pela endorfina da masturbação. Vitória no tribunal! Ganhei uma grande ação. Na mesma hora, enviei uma mensagem para Ana que as 21h teríamos um jantar no Restaurante do Castelo em comemoração ao meu sucesso. Um jantar romântico com vinho branco e o que mais nós desejássemos para brindar o êxito. 
Foi uma noite incrível... (apesar de termos bebido demasiadamente e ainda ser quarta-feira).
Eu queria dormir o dia inteiro. Mas às 5h30 eu já sentia o cheiro de café e o barulho das panelas. Ela realmente é das ciências exatas. Mesmo com uma ressaca incalculável, o horário, a quantidade de café, de tapiocas, do tempo no chuveiro, para se vestir e pentear os cabelos eram exatamente iguais e calculáveis em relação aos outros dias da semana. Além, é claro do unânime cheiro de jasmim natural de Ana. Apesar do aroma doce, ela estava um pouco irritada pelo compromisso. E Roberto não cantou essa manhã. Levantei ligeiro para tentar contempla-la antes do trabalho, ao menos um pouco. Lembrei de como ela é importante para mim. E fui mais um dia grato por ela fazer tapiocas com café. Dei um beijo na testa. E antes dela sair, percebi que minha carteira estava vazia. Precisava de cigarros. Corri para descer o elevador com ela e tomar uma carona até o posto que fica no meio do caminho. Essa manhã estava diferente...
No posto não tinha Malboro. Aceitei um cigarro barato qualquer. Voltei fumando para casa. E de longe percebi um caminhão de mudanças descarregando alguns móveis e eletrodomésticos no prédio vizinho. Torci que fosse mais uma família passível de ser observada através da minha janela. Já faziam alguns meses que eu me sentia entediado por observar apartamentos vazios fumando meus cigarros matinais. Seu Jeremias já havia chegado. O jornaleiro deixado o jornal. Saudei seu Jeremias. Apanhei o Jornal. Chegando no oitavo andar cruzei com a vizinha do vira-lata. Esperei a porta do elevador descer com a velha e, direcionei o jornal do dia direto no saco do lixo. O dia estava esquisito. Preferi evitar surpresas sobre crises econômicas, escândalos políticos de corrupção, mas principalmente, musas futebolísticas. Aquilo poderia se tornar insano e incontrolável, haja vista, que era um tanto quanto antagônico, haja vista que, ao mesmo tempo que me dava prazer me submetia a um sentimento de culpa perante a Ana. 
Ascendi um cigarro na janela e torci para a mudança ser em um apartamento visível. No segundo trago do cigarro barato, a porta do 703 foi aberta por uma mulher. De supetão, engoli um pouco de fumaça. Consegui me engasgar em um nevoeiro de tabaco cheirando a nicotina. Uma leve asfixia momentânea. Achei necessário abaixar da janela, pois a tosse foi intensa e ela poderia achar que eu estaria observando-a. As janelas eram uma em frente a outra. Restaurei-me. Voltei a ocupar a janela junto ao meu segundo cigarro. Entraram dois homens carregando um uma geladeira branca. Ela apontou com seus delicados dedos o local onde a geladeira iria morar. Ela era uma branca donzela. Daquela distância era possível observar como suas veias e artérias eram azuis. Os olhos verdes como uma folha muito clorofilada. Cabelos franjados remetendo um ar de décadas passadas. Talvez anos 60. Pretos. Lisos. Compridos. Estavam presos com um elástico amarelo neon no topo da cabeça. Ela vestia uma blusa larga da Alemanha. Um short jeans curto. Na perna direita, uma tatuagem complexa de muitas flores a tornavam mais excitante ao meu olhar. E entre sete e nove horas já estavam todos os móveis dentro. Inclusive eu – dentro do meu apartamento em corpo e dentro do dela em mente.  Estava atrasado. Mas não percebi a hora passar. Já foram 6 cigarros. A essa hora, ela já havia observado que eu não havia saído da janela. Trocamos três vezes olhares diretos. Nesse último, ela ligou um velho aparelho de vinil. Colocou Chopin para tocar. Ascendeu um cigarro na janela. Ficamos nos observando durante toda Préludes. Que fora a primeira a tocar. Eu estava excitado com aquela situação. Tentava mascarar meu semblante, apesar de não desgrudar da janela. Estava hipnotizado com aquela mulher de olhar sedutor. Ela estava tentando me seduzir, claramente. O vento batia no meu cabelo. Enquanto meu pênis batia contra parede de tão rígido. O sangue pulsava em todo seu comprimento. Eu suava como se estivesse no deserto mais quente do mundo. O cigarro dela acabou. Préludes também. O vinil de Chopin continuava a tocar.  Eu já não escutava o que estava tocando. O único toque que me importava naquele momento era a ligação e o movimento que minha mão estava fazendo. Eu pensei que estivesse rápido demais naquilo. Até que de repente, ela tirou a blusa da Alemanha. Por baixo da blusa, ela vestia um sutiã rendado preto, um pouco transparente. Em sua costa, um dragão chinês tatuado. Fico maluco com tatuagens. Estava realmente ficando louco com aquilo. Minha mão não estava mais acompanhando a rapidez de meu desejo. Dançando lentamente, tirou o short jeans. Quando o short passou por sua tatuagem, antes de cair ao chão...a mulher colocou a mão na vagina e parecia penetrar três a quatro dedos de uma vez. Seu rosto demostrava prazer. Ela fazia caras e bocas de deleite em saber que estava sendo observada por mim. Eu gozei a primeira vez na parede da janela da sala. Não estava preocupado com a sujeira que estava fazendo. Muito menos que tinha que partir para o trabalho. Ou simplesmente que Ana pudesse aparecer ali por um imprevisto qualquer. Ela não parou... Tirou o sutiã preto. Seus seios eram os mais formosos que já pude ver. Mamilos rosados. Estavam ouriçados. Ela estava magnífica fazendo aquela performance particular. Acariciava seus seios como se fossem as minhas mãos acariciando-a. Sua calcinha era pequena e rendada cor-de-rosa. Ela deitou no chão, próximo a porta principal. Para que eu pudesse observar com mais detalhes seu show. Foi quando ela afastou a calcinha e abriu as pernas. Seu corpo fazia um movimento ondular. Como se tivesse alguém em cima a possuindo. Sua vagina era tão rosa quanto seu mamilo. Uma pequena porção de pêlos em forma retangular, acima do clitóris, decoravam a buceta mais desejada por mim naquele momento. Ela estava se masturbando com os dedos para mim. Suas pernas estavam muito abertas. Talvez fosse uma bailarina ou uma contorcionista. Gozei pela segunda vez seguida na parede da janela. Nunca tinha gozado duas vezes em um intervalo tão curto de tempo. Parece que ela sentiu que eu tinha chegado lá. Minha conexão com essa mulher desconhecida estava surreal. Ela levantou do chão. Suas roupas ficaram no mesmo local onde caíram ao tirar. Foi nua para janela. Fumou outro cigarro. Ficamos nos olhando nos olhos por mais alguns minutos. Pude ver com maior clareza seu rosto e seios rosados e nem um pouco tímidos. Estimo que ela deva ter uns vinte e oito anos e uma personalidade muito forte. Ela sorriu e logo, fechou a janela peliculada. Não a vi mais nesse dia ensolarado de verão. O celular tocou. Estava atrasado para audiência. Limpei a sujeira. Tomei uma ducha fria. Fui ao trabalho. 
Missa de corpo presente. Foi assim que me senti durante todo o dia. Não há metáfora que me representasse com tamanha perfeição. Um turbilhão de pensamentos bombardearam a minha mente. Seria eu mal caráter? Por quê? Por que eu? Eu estou feliz com Ana! Como pude me deixar levar? Quem é ela? Da onde veio? O que faz? Esses são apenas alguns dos milhares de pensamentos, ideias e hipóteses que passearam em minha mente. Foi bem estranho voltar para casa e encontrar a mulher que casei. Procurei manter a cortina do quarto fechada. Até que em um momento Ana abriu. Fiquei um pouco desesperado. Mas respirei fundo. Espiei. A janela dela. Continuava fechada. Eu estava estranho. Ana percebeu que alguma coisa estava errada comigo. Apenas respondi que havia perdido nos tribunais. Dias bons. Dias ruins. Sempre prudente, ela me abraçou procurando me confortar. Estava perdido em ilusões e em um abraço de minha própria esposa. 
A Lua se foi. O Sol chegou. A rotina da casa aconteceu, como acontecem há dois anos. Desde que nos mudamos para esse apartamento. Café, tapioca, Roberto Carlos, beijo na testa, cigarro na janela...
Aquela janela abriu novamente. Chopin. Ela estava semi-nua. Ascendeu um cigarro na janela. Mais uma vez foi inevitável. Meu pênis endureceu no mesmo momento que a vi despida. Trocamos olhares. Eu gostei de vê-la. Ela gostou de mostrar seu corpo para mim. Faziam 24 horas que ela havia se mudado e já tínhamos códigos implícitos. Nunca nos vimos. Nunca nos falamos. Ela não abriu a janela enquanto Ana estava em casa. Ela pode ver de dentro para fora. Mas eu não. E ainda assim, a janela não abriu. Hoje, ela vestia uma meia três quartos e uma calcinha fio dental preta. Sempre com rendas transparentes. Seios rosados, ouriçados eram postos com auxílio da mão, na boca. A língua lambia o bico de seu próprio peito. Eu fui a Lua e voltei. Quando estava a voltar, ela mais uma vez se posicionou em direção a porta central e mostrou um vibrador. Era grande e preto. Empurrei meu corpo contra a parede da janela nesse momento. Tirou a calcinha. Ficou apenas de meia. Ela estava de quatro para mim naquele momento. E eu estava em êxtase. Querendo mostrar o que tinha por trás. Pude ver seu cu rosado e sua buceta por outro ângulo. Ela erguia o tronco mais e mais. E rebolava para mim. Eu estava quase lá. Até ela colocar tudo no cu. Colocando. Tirando. Colocando...e fazendo uma cara saliente para mim. Lambendo e mordendo os lábios. Eu urrei como um verdadeiro animal ao gozar.  A janela estremeceu com meu rugido de prazer. Senti uma energia soberba. O que seria isso? Um sexo? Apenas uma masturbação? Não sei. Também não sei se estava em busca de respostas para tamanhas complexidades. Ela tirou o vibrador de dentro dela. Desfez a postura de quatro. E fomos finalizando passo a passo. Lentamente. Como se fosse em câmera lenta. Fomos ao mesmo tempo para a janela fumar um cigarro. Ela sorriu. E fechou. Definitivamente, ela era uma exibicionista. E eu gosto de observar. 
Ela não falhava em me deixar excitado. De segunda a sexta uma fantasia diferente. Uma criação. Um vinil de música clássica. Eu não sabia da onde ela tirava tantas posturas e tanta flexibilidade. Desenvolta. Sagaz. Ela me fazia sentir um prazer único. Sem palavras. Sem identidade. Sem toque. Sem troca. Sem pele a pele. Foi melhor que muito sexo, transa ou trepada. Ela sabia o que estava fazendo. Uma mulher de propriedade de seus sentidos. Forte. Sensual. Exuberante. Simples. Genial. Clássica. Inovadora. Criativa. Inteligente. Foram seis meses assim, exceto finais de semana e feriados. Não vou mentir que quando Ana adormecia, ficava na janela. A janela nunca se abriu. Ela nunca aparecera nessas circunstâncias. Talvez fosse mais metódica que Ana. Acho que os detalhes da rotina e o capricho são qualidades excepcionais do sexo feminino. 
No dia 20 de maio de 2016, a janela do 703 não se abriu mais para mim. Fiquei esperando a manhã inteira. Perdi a audiência da minha vida. Também perdi o almoço de aniversário de casamento com Ana. Não fazia sentido. Nada estava fazendo sentido. Minha rotina estava viciada em cigarros, mas também nos encontros com ela. Era onde eu me sentia homem. Quando meu pau podia gritar em vozes de prazer. Meus olhos começaram a apresentar defeitos sem a imagem dela naquele apartamento. Tentei fecha-los e recordar das sensações que ela trazia. Falhei. Falhei no primeiro dia ao esperar. No segundo. No terceiro. No quarto. No quinto dia, assim como no quinto cigarro do princípio...fui até a portaria do outro edifício. Perguntei por ela. Ela havia se mudado. Sumido. Desaparecido do mapa. Nesses meses que passou alugando o 703, ninguém sabia nada sobre ela. Do passado, do presente, muito menos do futuro. Ela foi uma moradora quase inexistente. Comedida, recatada e do lar. Pedi as chaves para o porteiro, ele cedeu. O apartamento estava pintado de branco gelo. Olhei os compartimentos. De repente tinha alguma pista dela. Nada. Desanimado. Triste. Confuso. Perdido. Olhando para o chão em direção a porta principal. Onde eu tinha as melhores lembranças. No rejunte da lajota havia escrito: Rita. Foi ela. Eu tenho certeza. Agora minha lembrança tem nome. Foi o que restou. Apenas um nome. Rita..















                




sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Desejo

          O dia estava quente. Meu corpo, nem tanto. Pelo contrário, sem vaidade. Sem rímel. Sem pó.Sem batom. Uma leve intumescida. Nada estava dando certo. Tropecei ao sair de casa. Observei que estava com pé esquerdo. Mandei a superstição ir à merda. Depois acabei por tropeçar no cadarço do meu tênis, antes mesmo do elevador chegar. Pedi desculpas para as superstições. Então, saí com pé direito. Ufa! Deu tudo certo! Eu disse convencida de mim. Cheguei na garagem o pneu da bicicleta estava furado. Não era dia de andar de carro. Não tive escolha. Estava atrasada. O carro estava na reserva de gasolina. O trânsito estava confuso na Rua Amélia. Corri para o posto mais próximo. Na contra-mão, uma Hilux branca me bateu. Aliás, bateu na porta do meu carro. Comecei a achar que realmente o dia não estava agradável. Não criei confusão. Até quando um rapaz moreno-praia baixou o vidro do carro e deu boa tarde. Mexi o cabelo. Para tentar facilitar a falta de vaidade. A biologia da fêmea humana explica que em coorte, elas mexem o cabelo. Logo, eu estava como uma leoa ao vento. Ele gostou. Eu percebi. Ele contou uma história que a gente já havia se conhecido anteriormente. Não consegui resistir aquela história canalha: tive que ser sincera. Você me quer?  Ele ficou inexpressivo. De moreno-praia à pálido-neve. Talvez os homens modernos não estejam mais aptos para mulheres das cavernas. Então, o lambi no rosto. Dei um selinho. E toquei seu pênis carinhosamente com a mão direita. O frentista ficou paralisado. Pedi para ele estacionar o seu carro e vir comigo. Não queria saber seu nome. Sua profissão. Sua opção sexual. Queria testar minha feminilidade. Ele veio. Ele quis vir. Ele optou por vir comigo. Porque quis. Não obriguei ninguém. Ele sentiu desejo. E por que não desejar alguém e a tê-la sem pré-conceitos? Levei o moreno-praia doce do posto de gasolina para a orla de uma praia mais ou menos populosa. Sem falar nada. Eu calada. Ele calado. Unidos pelo desejo. Separados pelo anonimato. Unidos pelo carro. Separados pelo o que ainda estaria por vir. Abri a sua bermuda de surf azul com listras brancas e chupei até encher minha boca. Ele gritava com aquela chupada. Como se não houvesse amanhã. Como se a sua voz fosse infinita. E no outro dia não importasse a rouquidão. Gozou uma. Duas. Três. Coloquei minha língua em todo o seu corpo. Então sentei de costas em seu colo.Olhando para as pessoas que não podiam infelizmente nos observar pela película do carro escura. Então, sentei, sentei, sentei até me regozijar...não conseguia parar em cima dessa praia com ondas tão fortes. Que passavam dos pés a cabeça. Em um só corpo. Em várias vozes. Unindo tudo. Separando. Unindo. Separando. Nesse ciclo sem fim. Que na verdade, teria um fim. Infelizmente. Ele pegava no meu peito e gritava de tudo ao afundar em mim. Eu tremia. Ele também. Um cheiro sexo impregnou o carro, a praia e o moreno-praia. Depois de desfrutar de seu teso pênis, o que me restou foi esperá-lo até que vestisse a bermuda de surf azul com listras brancas. 
Então o devolvi para o posto de gasolina sadio. Os frentistas sorriram para mim e disseram que hoje era meu dia de sorte...Mandei a superstição ir à merda!
 Escrever isso me deixa vulcânica. Porque é pessimista tentar parafrasear um desejo realizado. Espero nunca mais reencontra-lo. Afinal, desejo é um querer, uma vontade e não uma história com começo, meio e fim...

Maya

Enquanto o táxi me leva até à Empresa, minha imaginação me leva até o mais nu de ti. No balanço das ruas esburacadas, minha vagina bate contra o banco do carro e eu tenho um sinestésico orgasmo corriqueiro. Meu pensamento está embrulhado em um lençol de seda pura de um hotel luxuoso. Paredes de vidro. Vista para o mais azul do mar. Morangos e champanhe. Posso sentir o cheiro  de sexo. De amor. De paixão. De sedução. Corpos imperfeitos em um lance perfeito. Sua mão grossa passando sob minha pele fina e delicada. Não tão delicada quanto o meu humor selvagem. Um tanto quanto antagônico. Mulher com cara de menina. Menina com atitude de mulher selvagem ovulando. Você quer ser carinhoso. Eu te dou um tapa na cara e chupo teu pescoço até sua sua alma ficar arrepiada. Agora estou subindo pelo elevador do departamento. Ao mesmo tempo que subo pelas paredes. Apertando o botão pra te encontrar. E tu me apertando com teus dedos. Esse encontro será com roupas. Chato e monótono. A luz vermelha do sexto andar ascendeu com o toque dos meus dedos pressionando. A sua pressão com dedos estava mais forte ainda. Pressão essa que alvoroçou meu clitóris com plenitude. A mente estava sozinha naquele momento indo ao sexto andar. Quem entrasse naquela hora pela porta do elevador não perceberia pelo meu semblante, que eu estava imersa em prazer mental, só na ideia de te ver pessoalmente. Eu não preciso gritar alto para gozar. Pode me prender. Tapar a minha boca. Me fazer refém. 
O elevador parou. Não foi ninguém. A luz acabou. Faltou energia. Ou a minha energia ansiosa de prazer fez a máquina parar. Aproveitei o escuro para ir mais longe. Sentei. No escuro, fechei os olhos e mergulhei nesse clímax telepático. Pele com pele. Suor com suor. Tudo dentro. Vibramos juntos. Corpo a corpo. Alma a alma. O pulso quase saiu pelo peito. Cumplicidade do gozo saliente. A luz ascendeu. O rapaz da companhia de elevadores avisou que ía liberar o elevador. O sexto andar chegou. Quando a porta abriu. Alguém estava lá. Esse alguém. Exatamente esse alguém. Com um sorriso perigosamente paternal de saber que eu estava bem. O dia fluiu como se nada tivesse acontecido na minha cabeça. E de fato, nada aconteceu.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Soneto meu


Não cria expectativas sobre mim
Não sou tão boa moça assim
Aliás, só a quantidade suficiente 
Para talvez perturbar tua mente


Sente!
Agora sente....
Semblante engraçado
Rosto levado


Sarcasmo e emoção
São as mentiras do coração...
Tudo isso é passível de levar
Basta neste colo sentar...

Senta!
Senta pra relaxar...
Tomar um café
Com meu lado mulher

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Um conto do parágrafo de um conto

Em alguma dimensão Régia encontrou Vitória. Como as ondas estuarinas que banham a costa, os pensamentos de Vitória enxaguaram Régia. Impulsionados pelo vento das chuvas tropicais, reflexões equivalentes causaram muitos relâmpagos. Uma grande quantidade de luz trespassava o céu. Isto, iluminava a cidade não muito desenvolvida ao norte do mundo. Agora, em sinapses cerebrais em um mundo que não é este estavam apenas Vitória e Régia. Face a face. Régia era vermelha, intensa, talvez louca (mas não tanto), cheia de padrões estéticos, amorosa, educada, diminuta mas oponente, calma. Enquanto Vitória era transparente, fria, equilibrada (mas não tanto), cheia de padrões estéticos-sociais-profissionais, dura, seca, oponente mas diminuta, hiperativa. A energia dos pensamentos não podia mais conter os próprios pensamentos. Pois muitas vezes simplesmente não queremos pensar em algo que já estamos pensado. Por exemplo, ficar pensando sobre o que está pensando?  Vitória pensava em Régia. Régia pensava em Vitória. Elas amavam... 

Carta de um conto que depois te conto se me deres um conto...

Recife, 18 de novembro de 2015.

     Querida,


 por que tu fazes isso comigo? Mexe com minh'alma. Esquenta meu coração. Ignora a racionalidade. Desvaloriza a sociedade: padrões, costumes e conceitos hereditários que eu demorei anos para consolidar. Tu só podes ser louca! Eu que sou certinha demais, fico espantada com a tua energia. Ela é quente e rápida. Pode penetrar meu corpo frio como uma lava vulcânica. Rompendo camada após camada de tecido humano. Isto é instinto? Isto é paixão? Isto é insanidade? O que é isto? Por que isto?


      Ah, esqueci que tu és muda. Como poderias responder? Ou queres ser muda? Ou preferes ser muda? Ou deves ser muda? Aliás, apenas sempre és muda. De fato, não sei se tu és. Tudo bem (apesar disto me importar). Posso entender a tua razão de nunca optar por ter razão. A vista desarmada a paixão sempre finge ser muda para os defeitos. E isto pode ser químico. Isto pode ser tudo. Pode ser nada. A coorte da polaridade. O coito químico. Um princípio ativo de uma planta medicinal popular do universo não popular em que vivemos.


     Assim, tu me deixas perdida no seio da irracionalidade. No corpo utópico do prazer dos meus pensamentos não concretos. Deitando as duas: consciência e subconsciência em uma só cama. Cama esta, cheia de folhas secas no centro daquela floresta fria de montanhas tropicais. São montanhas antigas, onde passaram muitas vidas e histórias de seres que não importam para mais ninguém, a não ser para nós duas. Naquela hora, olhando a lua pensei que era a hora exata. Mas existe exatidão para dois corpos que carregam aflição e culpa na mochila? Por isto, te pergunto queria: por que tu fazes isso comigo?

 Beijos gelados em sua boca quente,



 F. P.

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